Memória Estudantil: Parte 02


Por  (Daniel Rocha) Houve um tempo em que a maneira mais fácil de registrar mensagens de texto era através dos caderninhos de recordações. Neles pessoas próximas e do convívio diário tinham a oportunidade de gravar frases de carinho e apreço.

Por isso todo fim de ano algumas estudantes trazia na bolsa ao lado do batom o famoso caderninho. Lá os colegas da sala de aula professores e outros funcionários da escola,registravam antes do encerramento do período escolar, uma mensagem de agradecimento aos momentos que passaram juntos.

Conta com saudade Jucelia Jesus dos Santos que guarda com carinho os caderninhos das turmas de 1991,1992,1993. Ela concluiu o ginásio na Escola estadual de primeiro Grau Ângelo Magalhães. Recorda que foi muito feliz lá .”

A escola que foi extinta em 2010, segundo o diário oficial da Bahia em consequência da “baixa demanda de matrícula”, foi considerado uma das melhores escolas da cidade em um período que a política do país e do estado não andavam bem.

Em 1992, politicamente o Brasil discutia muito o seu futuro e os jovens daquela época eram, mais do que tudo, o futuro da nação. Jovens que expressavam a rebeldia através dos cabelos longos, moda entre os homens, nas capitais eram conhecidos como a geração Caras – Pintadas.

Além das perturbações políticas, o jovem dessa época tinha que se preocupar com a Aids que já havia vitimado alguns ídolos como, Cazuza, Freddie Mercury dentre outros. O assunto era constante nas rodas de bate – papo do recreio ou na aula de educação física, realizada ao ar livre, em uma quadra que merecia reparos.

As escolas públicas da cidade passavam por uma crise estrutural, muitas reformas iniciadas pelo governo que havia assumido o estado em 1991, Antônio Carlos Magalhães, não havia sido concluídas antes do início das aulas. Faltava cadeiras para todos os alunos, não havia distribuição de livros e nem merenda escolar. A educação, como exposto, vivia um período de dificuldades.

Mesmo com este contexto desfavorável a escola Ângelo Magalhães foi considerada uma das melhores da cidade, afirmo isso com base no consenso de algumas pessoas ouvidas e recordações da época.

O colégio competia inclusive com as instituições privadas por conta da credibilidade conquistada, por isso era destino preferido dos filhos de classe média que, tal como outros do Brasil, não conseguia pagar a pesada mensalidade cobrada pelas escolas privadas.

Sobre o assunto destacou a revista veja: “Com o país em recessão e a classe média sem dinheiro, muitas escolas pagas vêm perdendo alunos para rede pública e outras até podem fechar por falta de clientela”. (Revista Veja 29/01/1992.)

Apesar do esforço da direção, a escola não escapava das demandas, problemas e contradições da política. Para fugir da crise realizava pequenos eventos para reparos e melhorias na estrutura, porém alguns não se resolvia facilmente, como por exemplo a falta de carteiras para os alunos. Hoje alguns registros guardam detalhes que revelam alguma coisa da rotina escolar da época.

Como os do caderninho de recordações de Jucelia Jesus dos Santos. Dentre as diversas dedicatórias a do estudante Franklin chama a atenção pela importância que tem para memória afetiva da ex – aluna.
Segundo Jucelia no início daquele ano,1992, ela haviam discutido com ele em uma disputa por uma carteira escolar na sala de aula, por isso ficaram um tempo afastados . Recorda:

“Havia poucas para muitos, quando a professora abria o portão corríamos todos para dentro da sala para ocupar o lugar, seguramos a carteira ao mesmo tempo, sem acordo a questão foi para na secretaria” diz entre risos.

No final do ano de estranhos se tornam novamente amigos , como revela a anotação feita na tarde do dia 26/11/1992.

“Espero que não fique triste nunca e que lembre sempre de mim. Ju você é uma das meninas que mais admiro no colégio, o seu jeito de ser mexe com o coração de muita gente. Espero que continue assim, sincera, e que não se esqueça de mim. Não precisa lembrar de mim basta que não me esqueça . De seu amigo Franklin.

Para finalizar este texto, faço uso do paragrafo final do caderninho. “Aqui termina as minhas recordações de 1992. Guardo com muito carinho no fundo do meu Coração. Ass. Jucelia Jesus dos Santos.

 Fontes:
Caderninho de recordações de  1992. Autoria: Jucelia Jesus dos Santos.
Clientela Ariscada. Revista Veja. Ed 1219. 29 de janeiro de 1992. Acervo.
Conversa informal com:
Jucelia Jesus dos Santos
Daniel Rocha.
Contatos: samuithi@hotmail.com  ou tirabanha@tirabanha.com.br
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